Foz ao Minuto

13 de março de 2018

Crónica de Carlos Miguel Vitória sobre a Garraiada

Foto de Tauronews


A Garraiada

Por Carlos Miguel Vitória  (Presidente da Juventude Popular da Figueira da Foz)




Hoje que vai a votos a continuidade da Garraiada no programa da Queima das Fitas começo este artigo por vos trazer dois versos imortalizados pela grande Amália Rodrigues: “Coimbra é uma lição De sonho e tradição”

Seguindo as actuais demagogias populistas e o politicamente correto bem como a grande panóplia de argumentos usados contra a Garraiada porque não também acabar com as famosas Noites do Parque onde se assiste ao patrocínio e banalização da bebedeira ou o tradicional Cortejo que deixa um enorme rasto de poluição e que serve apenas para mostrar os estudantes à cidade, a qual não deveria ser incluída por a queima ser um evento “exclusivo” para os estudantes, ou os diversos Bailes que dão ano após ano prejuízos na ordem das dezenas de milhares de euros, bem superiores aos da Garraiada?

Porque não transformar a Queima das Fitas num festival, preferencialmente de verão onde as condições meteorológicas são mais propícias ao mesmo? Podia continuar a enumerar vários assuntos que envolvem o referendo que vai hoje a votos como o facto de os estudantes do Politécnico serem postos fora desta votação ou toda a política e interesses por trás deste referendo, mas opto por fazer uma análise mais histórica da Garraiada. Para tal trago-vos vários excertos do jornal “Gazeta da Figueira” que noticiava a realização da primeira Garraiada a 13 de Junho de 1903 com o título “A ACADEMIA NA Figueira”

 “Como é sabido, os briosos academicos que este anno frequentaram o 4º anno juridico na Universidade, quebrando as antigas e obsoletas praxes, quizeram festejar o acabamento dos seus estudos com uma diversão qualquer, em que podessem expandir a alegria que naturalmente os animava ao verem prestes a findar os seus longos trabalhos escolares” Já em 1903 os estudantes achavam as praxes “antigas e obsoletas”. Como é sabido aos dias de hoje as praxes são das mais emblemáticas tradições de Universidade de Coimbra. Podemos ainda concluir, pela existência actual de praxes que estas não foram abolidas, mas sim que a Garraiada foi incluída nas suas comemorações académicas. “Os Sympathicos rapazes distribuiram generosamente os bilhetes do espe o seu início a Garraiada nunca teve por objectivo o lucro, mas sim apenas a partilha da alegria e diversão num espectáculo aberto à comunidade. “Ao entrar o comboio nas agulhas da estação, as musicas tocaram o Hymno Academico, os foguetes estalaram alegremente no ar e a grande quantidade de gente que veio no comboio espalhou-se pela cidade, dando-lhe desusada animação.” “[…] que por vezes nos davam a ilusão de que se tinha mudado Coimbra para a Figueira, com a Universidade e tudo…” Desde o seu início este é um dia que marca a vida da Figueira da Foz. O dia em que os estudantes de Coimbra nos visitam e em que a “Praia da Claridade” se veste de negro, mas pelas melhores razões. Aos dias de hoje já não há foguetes nem “hymno” na estação, mas a alegria e a festa não deixam de ser as mesmas. Relembro agora o ano da 1991, ano em que estudava a geração da maioria dos pais da minha geração, em que alguns “iluminados” decidiram mudar a tradição e realizar a Garraiada na cidade de Tomar. Em contestação muitos estudantes recusaram ir a Tomar e vieram até à Figueira da Foz.


Eles quiseram lutar para que os seus filhos, nós, pudéssemos viver as tradições que eles viveram. A própria Região de Turismo do Centro, em comunicado disse “A alteração prejudica os interesses da cidade da Figueira da Foz e da R.T.C. e ainda, a hotelaria, restauração e similares”, no qual também anunciava a redução do seu apoio à Queima das Fitas, de 1,5 milhões de Escudos, para 1 milhão de Escudos. Para a R.T.C. a Garraiada seria responsável por 1/3 do seu apoio. Agora espanta-me o silêncio da edilidade Figueirense, a qual parece continuar de costas voltadas ao ensino universitário e nada incomodada em perder a única atividade que trás estudantes universitários à Figueira da Foz, pois aulas é coisa que não se vê por cá há mais de uma década…

Hoje a vitória do não à Garraiada não representará apenas a vitória de uma demagogia populista, mas também a morte de uma atividade secular, o definhar da tradição Coimbrã e uma enorme perda para a Figueira da Foz. Faço dois apelos: - Exmo. Sr. Presidente da CMFF, caso vença o não neste referendo, é hora de o Município da Figueira oferecer uma garraiada aos estudantes de Coimbra, estudantes estes que por mais de um século nos visitam anualmente para assistir a esta atividade. Seria um investimento muito melhor do que a “miserável” campanha (eleitoral) publicitária a que assistimos no ano passado e que garantidamente traria mais visitantes que os seus tão aclamados “Beach Sports”. -Estudantes de Coimbra (U.C. e Politécnicos), caso vença o não, recuperem o espírito que iniciou esta tradição, uni-vos e organizai uma grande garraiada, e agora livres das demagogias e do politicamente correto, incluam novamente a componente tauromáquica da festa. Façam desta a Maior Garraiada de Sempre!!!



Esta e todas as crónicas escritas neste espaço são da inteira responsabilidade dos seus autores.

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