Dois projetos da Universidade de Coimbra (UC), centrados na disponibilização de
recursos educativos e na produção e divulgação de mais conhecimento científico
sobre o Holocausto, acabam de obter financiamento da Fundação para a Ciência e a
Tecnologia (FCT).
Os projetos “MemoMarranos” e “O Holocausto em português: um repositório
dinâmico de recursos educativos”, com a duração de um ano, foram aprovados para
receber financiamento no âmbito do apoio especial a projetos de investigação e
desenvolvimento (I&D) sobre o tema “Portugal e o Holocausto: investigação e
memória”, apoio inserido no “Nunca Esquecer” – Programa Nacional em torno da
Memória do Holocausto.
O projeto “MemoMarranos” é liderado por João Paulo Avelãs Nunes, investigador do
Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20) e professor da
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), e integra-se num
processo de consolidação de uma rede internacional de investigadores e instituições
que produzem e divulgam conhecimento sobre judeus, “marranos”, antissemitismo e
Holocausto.
Genericamente, este projeto, que obteve 34 mil euros de financiamento, pretende
«identificar a documentação relevante para a produção e a divulgação de mais
conhecimento científico sobre a evolução, desde o início do século XX até aos
nossos dias — com destaque para os anos 1930 e para o período do
Holocausto —, dos portugueses classificáveis como “marranos”», refere João
Paulo Avelãs Nunes.
Os “marranos”, explica o docente e investigador da UC, «seriam cidadãos
portugueses, também descendentes dos “judeus” (até 1496) e dos “cristãos
novos” (séculos XVI a XVIII) lusos, que teriam perdido o contacto com o
essencial da cultura sefardita e com os outros segmentos da Diáspora
Judaica. Viveriam, pelo menos até ao imediato pós-Segunda Guerra Mundial,
sobretudo no interior centro e norte de Portugal continental».
Assim, nota João Paulo Avelãs Nunes, o “MemoMarranos” «resulta da importância
de viabilizar, tanto um melhor conhecimento acerca deste segmento da
realidade portuguesa, como a comparação da respetiva evolução com outros
segmentos da Diáspora Judaica e com outros universos de pós-vítimas de
violência de massas».
Procura-se «identificar e caracterizar a documentação —
oral (de memória e de pós-memória), escrita (manuscrita e impressa), gráfica,
audiovisual e material — relevante», conclui.
Por sua vez, o projeto “O Holocausto em português: um repositório dinâmico de
recursos educativos”, que obteve um financiamento de 32 mil euros, é conduzido por
António Sousa Ribeiro, investigador do Centro de Estudo Sociais (CES) e professor
catedrático aposentado da FLUC.
Tal como o título sugere, este projeto propõe criar um repositório, em formato online
e em acesso aberto, «que possa funcionar como um arquivo dinâmico
diretamente apto a ser apropriado como recurso educativo em português,
preenchendo deste modo uma lacuna importante no que diz respeito aos
recursos educativos disponíveis no campo do ensino do Holocausto em
português, tendo em conta as recomendações e práticas internacionais e, em
particular, as “Recomendações para o Ensino e a Aprendizagem do
Holocausto” recentemente emitidas pelo Ministério da Educação de Portugal»,
realça António Sousa Ribeiro.
O investigador sublinha ainda que o repositório vai ser estruturado como um guia,
«proporcionando acesso a ampla documentação e oferecendo orientação
sistemática para a produção de conteúdos e de estratégias didáticas
adequadas a cada contexto particular por parte de professores e agentes
educativos».
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