Achado excecional de pegada de dinossáurio na Figueira da Foz


Realizou-se ao final da manhã de ontem, 15 de julho, na Sala de Arqueologia do Museu Municipal Santos Rocha, a conferência de imprensa de apresentação de um achado de pegada de dinossáurio “um raro, um vestígio indireto (icnofóssíl) da existência de dinossáurios na região da Figueira da Foz”, realizada por Eduardo Leitão e pela mulher, num terreno de propriedade do casal, Anabela e Fábio, a quem o presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Carlos Monteiro, agradeceu a disponibilidade em partilhar “algo que foi encontrado em terreno privado”.


A sensibilidade de Eduardo Leitão permitiu identificar um molde de pegada de terópode na encosta superior da serra, virada a sul. Foram precisas muitas décadas para que ocorresse, pela primeira vez, uma descoberta desta natureza, fora dos afloramentos de calcário do Cabo Mondego. 

A preservação excecional desta pegada, visível sobre uma laje solta de arenito com cerca de um metro de comprimento, bem como a sua extrema raridade no registo geológico com esta idade, justificaram a atenção imediata do município da Figueira da Foz, que diligenciou a sua retirada para o Museu Municipal Santos Rocha, no âmbito do apoio crescente que tem vindo a dar à Geologia e Paleontologia locais e seus intervenientes. Segundo o geólogo e o paleontólogo figueirenses José Soares Pinto e Pedro Miguel Callapez, presentes na apresentação, e que efetuaram observações preliminares no local do achado, a pegada terá sido impressa sobre argila, junto à margem de um antigo meandro de um dos muitos cursos de água que atravessavam a planície de um extenso delta que existiu na região, há aproximadamente 154 milhões de anos, durante a parte média do Jurássico Superior.

Após a sua impressão, esta terá sido rapidamente coberta por areia transportada pelo curso de água, ficando preservada no registo sedimentar local sob a forma de um preenchimento de arenito que resistiu à erosão. 

No seu estudo participarão os investigadores da Universidade de Coimbra ligados a este contexto, bem como Vanda Santos, da Universidade de Lisboa, especialista em pegadas de dinossáurio e revisora científica da National Geographic Portugal, que marcou presença na apresentação do achado, na sua perspetiva “um espécime paleontológico singular” e “uma peça extraordinária, enquanto peça de museu”. 

Carlos Monteiro referiu que o município preservou, no Plano Diretor Municipal, o conjunto de edifícios do antigo complexo da Cimpor, no Cabo Mondego, para turismo, serviços e investigação e que temos de aproveitar para “valorizar este espaço que é o Cabo Mondego e a zona, que há muito os cientistas acompanham” e colocá-la na agenda nacional. 

Pedro Callapez salientou a relevância educativa do fóssil, “o interesse que pode suscitar em criança e jovens”, o conjunto de estudos científicos com publicações de nível com relevância internacional e reuniões científicas que pode originar, bem como a sua importância patrimonial para a “reconstituição geoterritorial do concelho” e a relevância turística e lúdica. 

Por seu lado, Soares Pinto, referiu que “temos uma coisa única” e deixou o repto ao município, “particularmente sensível a estas questões”, de editar um livro de divulgação deste e de outros achados, que possa ser distribuído junto de turistas, população local e escolas, por forma a que as “boas práticas possam ficar expressas e estes bons exemplos informados”. 

Recordamos que a Figueira da Foz é conhecida pela riqueza e diversidade dos seus fósseis dos períodos Jurássico e Cretácico da Era Mesozoica, entre os quais se encontram pegadas e trilhos de dinossáurios. 

Estas ocorrências centram-se no Cabo Mondego, frente às instalações da antiga mina de carvão e da fábrica de cal hidráulica, hoje desativadas. Incluem as mais antigas referências a pegadas de dinossáurio em Portugal, da autoria do naturalista Jacinto Pedro Gomes e publicadas, em 1916, pelos Serviços Geológicos de Portugal.

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