Visando prevenir a repercussão na saúde mental da contínua exposição à
adversidade dos bombeiros na sua atividade e melhorar a tomada de decisão, na
próxima segunda-feira, dia 31 de maio, vai ser apresentado um projeto de
investigação que estuda estes aspetos críticos do combate a incêndios no contexto
das ciências da saúde, liderado pelo neurocientista da Universidade de Coimbra
(UC), Miguel Castelo-Branco, e envolvendo uma equipa interdisciplinar de médicos,
psicólogos e engenheiros.
Iniciado em janeiro de 2020, seguindo trabalho prévio da equipa clínica, o estudo,
designado “DECFIRE - Treino da tomada de decisão crítica e gestão do stress pós-
traumático nos técnicos de combate a incêndios”, envolve a participação de mais de
200 bombeiros do distrito de Coimbra e tem como parceiros o Centro de Prevenção
e Tratamento do Trauma Psicológico, CRI de Psiquiatria – Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra (CHUC), a Administração Regional de Saúde do Centro
(ARSC, IP) e a Federação dos Bombeiros do Distrito de Coimbra.
Os dados prévios já obtidos pelo grupo de trabalho clínico especializado na área do
trauma confirmam a «exposição frequente a vivências potencialmente
traumáticas. 82% dos participantes no estudo já estiveram expostos a mais de
20 situações potencialmente traumáticas.
A exposição continuada a este tipo
de situações poderá vir a colocar em causa os seus mecanismos de
funcionamento normais e condicionar a emergência de problemas ao nível da
saúde mental», afirma Miguel Castelo-Branco.
O docente da Faculdade de Medicina da UC e investigador do Coimbra Institute for
Biomedical Imaging and Translational Research (CIBIT/ICNAS) explica que o projeto
DECFIRE, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), explora
os «processos cerebrais envolvidos na tomada de decisão crítica em
condições extremas de combate a incêndios e a forma de melhorar a tomada
de decisão nessas situações».
Estes processos, clarifica, «são estudados através de eletroencefalograma e
imagem por ressonância magnética funcional, mas também com recurso a
ambientes de realidade virtual. Foram desenvolvidos simuladores específicos
para o projeto, capazes de simular de forma realista situações de combate a
incêndios. Deste modo, os participantes no estudo são expostos a cenários de
situações de tomada de decisão desafiadoras, mas realistas, o que nos
permite estudar a perceção de risco e o controlo emocional em situações
extremas».
«O domínio do fogo florestal é bastante diferente de outros cenários de
emergência em termos de cenários operacionais e fontes de incerteza.
Os
bombeiros precisam da capacidade de treinar situações e cenários
inerentemente inseguros e difíceis de reproduzir, ou impossíveis devido a
restrições ambientais, comunitárias e regulatórias», justifica.
Os resultados obtidos até agora no âmbito do DECFIRE vão ser apresentados na
próxima segunda-feira, dia 31 de maio, pelas 21h30m, durante um webinar sobre “A
atividade de Bombeiro(a): Impactos do Stress na Saúde e Qualidade de Vida”,
que, de acordo com a organização, pretende «discutir o impacto do stress
resultante do combate a incêndios na saúde e na qualidade de vida dos
bombeiros e das suas famílias».
O evento reúne bombeiros e suas famílias,
profissionais de saúde e cientistas.
Miguel Castelo-Branco salienta ainda que o projeto inclui um plano de
«disseminação com demonstrações práticas para bombeiros, fornecendo
oportunidades privilegiadas de treino em situações e cenários específicos de
combate e domínio do fogo, inerentemente inseguros e de reprodução difícil
fora do contexto de treino». Passará também, conclui, por «sensibilizar os
bombeiros e famílias, profissionais de saúde, associações corporativas e
comunidade em geral para o impacto na saúde decorrente da exposição
continuada à adversidade e para a importância na prevenção e ajuda precoce».
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