Uma equipa da Universidade de Coimbra (UC), com a colaboração da Escola
Superior Agrária de Coimbra (ESAC), desenvolveu um conjunto de embalagens
comestíveis a partir de diferentes resíduos do setor agroalimentar e da pesca, uma
alternativa sustentável ao plástico.
Na prática, estas embalagens comestíveis são filmes obtidos a partir de resíduos de
diferentes alimentos, nomeadamente cascas de batata e de marmelo, fruta fora das
características padronizadas e cascas de crustáceos, que, além de revestirem os
alimentos, prolongando a sua vida útil na prateleira do supermercado, também
podem ser ingeridos.
As embalagens desenvolvidas pelas investigadoras Marisa Gaspar, Mara Braga e
Patrícia Almeida Coimbra, do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos
Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF), da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), foram pensadas essencialmente
para revestir frutas, legumes e queijos, incorporando na sua matriz compostos
bioativos/nutracêuticos, tais como antioxidantes e probióticos, com potenciais efeitos
benéficos para a saúde.
Podemos imaginar, por exemplo, cozinhar brócolos ou espargos sem ser necessário
retirar a embalagem, uma vez que a película que os envolve é composta por
nutrientes naturais com benefícios para a saúde.
«Produzimos composições diferenciadas de filmes, usando os resíduos quase
integralmente, que contêm compostos com propriedades diferentes. Por
exemplo, a casca de batata tem mais amido e a casca de marmelo mais
pectina, ou seja, temos dois materiais poliméricos estruturais que,
combinados, vão gerar um filme simples, sem processamentos complexos»,
explicam Marisa Gaspar, Mara Braga e Patrícia Almeida Coimbra.
No entanto, antes de conseguir obter filmes/revestimentos quer na forma de película
quer na forma de spray (aplicado na fase líquida e seca no alimento), a equipa, que
juntou vários grupos de investigação da UC e da ESAC, teve de superar várias
fases. «O maior desafio é encontrar os materiais ideais para que as
formulações tenham as características desejadas. Por isso, foi necessário
estudar os filmes do ponto de vista físico, como por exemplo as propriedades
mecânicas, de forma a servirem de embalagem/ revestimento; estudar as
propriedades bioativas dos filmes, ou seja, se alguns compostos apresentam
benefícios para a saúde quando ingeridos; avaliar as reações quando se
juntam diferentes compostos; análise microbiológica e sensorial dos filmes
selecionados; e avaliar a compatibilidade do alimento com o sistema
comestível produzido», resumem as três investigadoras da FCTUC.
Marisa Gaspar, Mara Braga e Patrícia Almeida Coimbra consideram que a solução
proposta pela sua equipa pode ser «muito vantajosa tanto para indústria como
para o consumidor. É uma abordagem centrada na economia circular. Não só
aumenta a vida útil do produto na prateleira, como também evita o desperdício,
reduz a produção de lixo plástico, um grave problema ambiental, e gera um
novo produto que confere um adicional nutritivo ao alimento», concluem.
Iniciada em 2018, no âmbito do projeto “MultiBiorefinery”, financiado pelo COMPETE
2020, esta investigação foi recentemente distinguida com um prémio de 20 mil euros
pelo programa “Projetos Semente de Investigação Interdisciplinar - Santander UC”,
atribuído a equipas multidisciplinares lideradas por jovens investigadores na
Universidade de Coimbra. Foi ainda premiada no concurso de ideias LL2FRESH,
que visa procurar novas soluções de embalagem, métodos de tratamento de
alimentos e aditivos de última geração.
No âmbito deste projeto foi publicado um artigo científico na revista Food Packaging
and Shelf Life, disponível: aqui.
0 Comentários