Francisco José Viegas foi o mais recente convidado do projeto de promoção e
incentivo à leitura «5as de Leitura», cuja sessão de fevereiro se realizou na
passada quinta-feira, dia 20, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal Pedro Fernandes
Tomás e foi conduzida pelo vereador da Cultura, Nuno Gonçalves, que se referiu ao
escritor, editor, professor universitário e jornalista, com experiência governativa,
como “um livre pensador, um crítico construtivo da sociedade portuguesa”.
Nuno Gonçalves teceu elogios ao público das «5as de Leitura», “um público que
gosta de fazer a sua partilha, de fazer as suas perguntas”, e referiu que a iniciativa
que o município leva a cabo há um década permite “uma relação biunívoca” entre
os escritores e o público e “falar de coisas muito sérias, de forma muito sã”.
Francisco José Viegas confidenciou que esta era a primeira vez que falava em
público sobre «A Luz de Pequim», um livro que faz uma “espécie de balanço” da
vida do inspetor Jaime Ramos, um personagem que acompanha o escritor há quase
três décadas e com quem este mantêm uma relação “simpática”.
“Sem mim ele não tem existência, eu sem ele tenho que escrever outros livros”,
referiu o autor que salientou que mantêm uma relação de “dependência mútua”
com Jaime Ramos.
“Eu sou um criador com poderes limitados, pois eu posso dar-lhe vida, mas não
posso obrigá-lo a ser dependente. O que ele faz no livro é da responsabilidade
dele”, referiu o autor.
A conversa com o Francisco José Viegas foi bastante animalada e bem-humorada e
incluiu reflexões sobre algumas temáticas de relevo, como a questão das políticas
públicas culturais que, na perspetiva do escritor são promovidas em cerca de 70%
pelas autarquias.
O ex-Secretário de Estado da Cultura, referiu ainda a este propósito que “vivemos a
euforia da cultura”, e que “a ideia de que tudo é cultura é simpática”, contudo “o
estado não pode ser vanguardista”, não pode deixar de lado o que é do domínio
tradicional da cultura.
Também o panorama literário português, antes e pós 25 de Abril, no que toca ao
género policial foi tópico de conversa. Francisco José Viegas recordou que antes da
revolução de 1974, o policial era muito apreciado em Portugal e que havia muita
gente a escrever policiais, a maioria sob pseudónimo, como António de Andrade
Albuquerque (Dick Haskins).
O cenário hoje é diferente, o policial “não é popular” enfatizou o escritor que
escreve policiais não porque a sociologia do crime lhe interesse, “embora
tenhamos alguns criminosos muito interessantes”, mas sim porque lhe interessam
“os personagens, o país, e a forma como as coisas se passam, as ligações familiares,
as castas”.
A próxima sessão das «5as de Leitura» está agendada para dia 26 de março e
contará com a presença do escritor Fernando Pinto do Amaral.
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